SEM ABRIGO, POPULAÇÃO DE RUA DE SJDR FICA A MERCÊ DO NOVO CORONAVÍRUS; GT RUA FAZ CAMPANHA SOLIDÁRIA E PEDE PROVIDÊNCIAS À PREFEITURA

Segundo dados do Creas, São João del-Rei tem cerca de 12 moradores de rua e em torno de 25 pessoas em situação de rua

As principais recomendações dos órgãos de saúde no combate ao novo coronavírus são ficar em casa, para evitar aglomerações e a transmissão do vírus, e lavar bem as mãos. Em um primeiro momento, isso pode não parecer muito difícil. No entanto, quanto mais se pensa sobre o assunto - e mais se vive essa realidade - novos desafios surgem. 

A pandemia escancara ainda mais o abismo da desigualdade social no Brasil. Nem todos podem ficar - seguros - em casa. A situação da população em situação de rua durante a pandemia do novo coronavírus é grave e atinge a sociedade como um todo. Essas pessoas, que não podem se proteger, se tornam ainda possíveis agentes de transmissão do vírus. 

Em São João del-Rei, o chamado “GT RUA” - grupo de articulação entre a Ordem Franciscana Secular, a Prefeitura Municipal, por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), e a Universidade Federal de São João del-Rei - está com seu trabalho voltado para a assistência desse grupo mais vulnerável durante a pandemia. 

Membro da Ordem Franciscana Secular (OFS) que, junto com a Jufra (Juventude Franciscana), organiza um grupo de voluntários que trabalha com a população em situação de rua na cidade, o sociólogo Leandro Targa explica que a igreja já realizava ações pontuais de auxílio e assistência a pessoas nessas condições. No entanto, com a crise do Covid-19, essas ações precisam se tornar mais imediatas e efetivas. “Estamos correndo contra o tempo, já que a cada dia que passa o período de pico da pandemia se aproxima de nossa cidade e vai atingir em cheio os mais vulneráveis, aqueles que as recomendações de 'ficar em casa' e 'lavar bem as mãos' não fazem o menor sentido”, esclarece Targa.

O sociólogo ressalta que o grupo já havia percebido a necessidade de ampliação do trabalho para além da assistência das necessidades imediatas da população em situação de rua. “Entendemos que esse trabalho assistencial é importante, mas insuficiente para que a população de rua tenha acesso a seus direitos. É necessário aliar essas ações a outras de transformação estrutural da sociedade para que o problema seja atacado pela raiz, principalmente o acesso dessas pessoas a políticas públicas”, reforça.

Ações de auxílio à população em situação de rua

Nas últimas semanas, com a crise do novo coronavírus, o GT RUA intensificou as articulações elaborou propostas de ações na cidade que têm como objetivo proteger a população em situação de rua. “Estamos, neste momento, buscando as pessoas, tanto na Prefeitura quanto na UFSJ, que possuem capacidade de tomada de decisão, para que possam nos ouvir e tomar conhecimento de nossas propostas, para que se intensifiquem as ações”, afirma Targa. 

Efetivamente, o grupo está organizando uma campanha de doações de alimentos e produtos de higiene, que serão distribuídos à população de rua. Serão coletados: alimentos não perecíveis, álcool gel, máscaras, luvas, sabonete líquido, sabão, detergente, água sanitária e papel higiênico. A doações podem ser entregues na Casa Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, que está localizada na entrada do Campus Santo Antônio da UFSJ. 

Saúde da população de rua

O GT-Rua está focado em políticas públicas como forma de garantir a saúde da população em situação de rua de São João del-Rei em tempos de pandemia de Covid-19. “Para isso, temos dialogado com a Prefeitura Municipal e cobrado ações específicas do Poder Público voltadas a essa população, que configura um importante grupo de risco no contexto da pandemia que estamos vivendo”, explica o servidor técnico administrativo da UFSJ, André Felipe Morcatti dos Santos. 

CONFIRA AQUI AS REIVINDICAÇÕES DO GT RUA ENCAMINHADAS À PREFEITURA

Santos foi convidado a participar do GT-Rua no início da pandemia, quando seu  trabalho de assistência à saúde da população em situação de rua e pessoas em vulnerabilidade social teve que ser adiado. Ele explica que a falta de acesso da população em situação de rua a condições básicas de higiene agrava ainda mais os riscos de contágio. 

“Nosso trabalho tem como objetivo minimizar os impactos sociais da pandemia sobre essa população que, em tempos normais, já se encontra em estado de vulnerabilidade”, afirma o servidor. E completa: “se podemos seguir as recomendações das autoridades sanitárias e ficar em nossas casas, devemos também pensar naqueles que não têm casa para os abrigarem nesse momento”. 

Ações do poder público municipal

A coordenadora de Proteção à População de Rua do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Joice Angelina Cláudio, explica que em São João del-Rei existem mais casos de pessoas em situação de rua do que moradores de rua em si. “A maioria das pessoas em situação de rua tem casa, são moradores da cidade”, esclarece. 

Na cidade, são em média 25 pessoas que se encontram fora de suas residências, por motivos diversos. No entanto, a coordenadora do Creas destaca a dependência química como um dos principais fatores de abandono do lar pela população em situação de rua. 

Quanto aos moradores de rua, aqueles sem casa e que fazem da rua sua moradia, a estimativa da Prefeitura é que eles sejam por volta de 12 pessoas na cidade. 

Sobre o trabalho do poder público municipal com a população de rua durante a pandemia, Cláudio explica que, como não se pode obrigar essas pessoas a saírem da rua, as ações focam na orientação e no aconselhamento. “E, no caso das pessoas que têm casa na cidade, no aconselhamento das famílias também”, afirma. 

Segundo a coordenação do Creas, São João del-Rei não possui um número suficiente de moradores de rua para receber um abrigo, mas a Prefeitura Municipal estuda a ideia de implantar um temporário durante a pandemia. No entanto, não informou que articulaçòes estão sendo feitas para isso e nem quando irá ocorrer. 

 

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