DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA: UMA ENTREVISTA COM CASSI PINHEIRO

Há 27 anos, no dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica no Brasil. Em alusão à data, a ADUFSJ - Seção Sindical realizou uma entrevista com a assessora parlamentar, integrante do Fórum de Mulheres das Vertentes e uma das articuladoras da Semana da Visibilidade Lésbica de SJDR, Cassi Pinheiro. 

A conversa abordou pontos como as atividades programadas para o Dia da Visibilidade Lésbica em São João del-Rei, a importância da data, as demandas do movimento lésbico na cidade e formas de contribuir com a luta. 

Confira a entrevista na íntegra: 

Que atividades estão sendo programadas para o Dia da Visibilidade Lésbica em SJDR?
Em reconhecimento à importância da data, um grupo de mulheres se organizou organicamente para propor algumas ações na cidade, a ideia é que os coletivos que defendem essa luta proponham e se responsabilizem pelas atividades.
No dia 29 haverá um cine-café feminista no Solar da Baronesa, às 17h30, proposto pelo Fórum de Mulheres das Vertentes, seguido de uma roda de conversa. O filme a ser exibido será o The Watermelon Woman (1996), um longa entre a ficção e o documentário que mostra o percurso de Cheryl, uma diretora de filmes lésbica e negra, na reconstituição da história de uma atriz negra do cinema norte-americano da década de 30.
Dia 30 o movimento LGBTQIA+ realizará uma roda conversa em Comemoração ao dia da Visibilidade Lésbica, às 19h, na sede da ONG. 
Dando seguimento às atividades, a Marcha Mundial das Mulheres, núcleo SJDR, propõe mais dois dias de programação: Dia 31/08, às 18h no auditório do Campus Dom Bosco UFSJ, o "Painel Saúde Mental da Mulher Lésbica", uma roda de conversa que buscará refletir as circunstâncias às quais mulheres lésbicas são expostas enquanto indivíduo e grupo, que podem afetar sua saúde mental. No dia 01/09, às 18h, no pátio do campus Dom Bosco UFSJ a programação conta com a "Roda de siririca: prazeres e afetos" no intuito de pensar a liberdade dos corpos lésbicos, dialogar sobre os tabus e prazeres. A roda também vai contar com lanche coletivo e atividade cultural.

Qual a importância desta data?
Em 29 de agosto de 1996 foi realizado no Brasil o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, que discutiu temas como a organização coletiva, saúde e visibilidade, evento que deu origem à data reconhecida nacionalmente. Já se passaram 27 anos desde o início dessa mobilização e as demandas de décadas ainda perduram, dentre elas está o combate à violência, à lesbofobia e ao lesbocídio. De acordo com o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil (2018), os números de violência contra as lésbicas crescem a cada ano. 
Com o avanço do conservadorismo no Brasil nos últimos anos, nós, mulheres lésbicas, sofremos diversos ataques aos nossos direitos mais básicos, principalmente por sermos uma comunidade composta por mulheres. Temos enfrentado perda de laços familiares devido à nossa orientação sexual, abandono escolar pela intolerância à diversidade nos espaços públicos, ausência e/ou dificuldades de atendimento à nossa saúde básica e a intensificação da violência perversa sobre os nossos corpos através dos estupros corretivos e “curas gay”. Isso resulta numa conjugação de fatores do preconceito, abrangendo o machismo, a misoginia, a lesbofobia e a transfobia. As lésbicas negras e pobres são um alvo de ainda maior vulnerabilidade, pois sofrem diariamente também as violências racistas e classistas, evidentes no desemprego ou nos postos de trabalho mal remunerados e precarizados e na ausência de serviços públicos.
Contudo, essa realidade segue invisível e pouco se fala ou se faz para mudá-la. É fundamental que a luta pela visibilidade lésbica seja colocada em pauta, pois enquanto não formos vistas, não teremos nossos direitos reconhecidos, direitos esses que abrangem desde a dupla licença maternidade até o direito à vida e ao viver sem violências.

Quais são hoje as principais demandas do movimento lésbico na cidade?
A luta pela visibilidade lésbica é também uma questão local mas, para que nossas demandas sejam vistas, é fundamental nos reconheçamos e nos articulemos, para que possamos juntas dialogar sobre os desafios no nosso município e região. As lutas das mulheres são muitas, precisamos pensar nas lésbicas mães, nas lésbicas negras, nas lésbicas pobres, naquelas que já se encontram em situação de violência e precisam de ajuda. É muito importante compreendermos as demandas específicas de cada uma de nós, para que possamos avançar coletivamente. A invisibilidade, o preconceito e a falta de apoio leva muitas de nós ao sofrimento mental, uma realidade recorrente na comunidade LGBTQIAPN+, e isso dificulta ainda mais a mobilização e organização desses grupos. Apenas com acolhimento e luta coletiva alcançaremos conquistas amplas e reais e é isso que estamos buscando com a organização desta Semana da Visibilidade Lésbica em São João del Rei: reconhecimento, acolhimento e organização coletiva.

Como cada pessoa pode contribuir com essa luta?
A primeira contribuição que todas e todos podem fazer é reconhecer nossas existências, em suas múltiplas realidades, e respeitá-las. Uma escuta passiva para compreender uma existência distinta da maioria é fundamental.
Aderir à luta é um segundo passo, divulgar, participar das ações e falar sobre isso ajuda a quebrar as barreiras do preconceito. 
É necessária a compreensão de que as violências às vezes podem ser veladas e aparentemente sutis, mas que podem nos atingir com a mesma força das demais formas de violência: a hiperssexualização e estigmatização da mulher lésbica também não podem ser toleradas.
Todos precisam ser os olhos atentos que não deixam que as mais variadas formas de preconceito passem impunes, portanto, é necessário respeito, apoio, acolhimento e denúncia, quando necessária.

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