NOTA DA DIRETORIA DA ADUFSJ: O QUE É SER UM PROFESSOR DOUTRINADOR?

Nos últimos anos, recorrentemente, os professores foram acusados de serem doutrinadores. Na última semana, essa “acusação” foi feita com requintes de crueldade pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que comparou os professores, todos eles considerados indiscriminadamente doutrinadores, aos traficantes de drogas. 

Essa comparação deixou a sociedade indignada, pois, sendo ou não profissionais da educação, todo mundo conhece ou convive com professoras ou professores, seja nas escolas, nas universidades ou na vida, tendo mãe, pais, irmãos, irmãs, tias ou tios, abraçado essa profissão que até pouco tempo era valorizada no discurso da sociedade, embora essa valorização nunca tenha se revertido de fato em condições de trabalho dignas. Nesse sentido, a fala do deputado deve ser repudiada e denunciada pelos órgãos competentes.

Realmente, é de se indignar! Porém, o que mais surpreende na fala do deputado é que ele define o que em sua visão seria o professor doutrinador. Segundo ele, o professor doutrinador seria pior que o traficante de drogas, “porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo tipo de relação”.

Então, para o deputado e sua corja, as opressões têm que ser invisibilizadas mesmo que, em sua visão ideológica, elas façam sentido? Seria, então, normal, a opressão dos homens contra as mulheres, opressão que geralmente leva à violência e até ao feminicídio. Seria normal, a opressão dos patrões contra os empregados, porque eles já deixaram claro que defendem a sociedade escravocrata e não veem problema nenhum em empregados sendo tratados como bichos, desde que seus lucros sejam preservados e até aumentados. Da mesma forma, não veem opressão de ricos contra os mais pobres, porque defendem sem pudor seu lugar de privilégio. Eles não veem opressão contra pessoas negras, porque se acham de fato superiores a elas. Eles não veem opressão contra a comunidade LGBTQIA+, uma vez que para eles, homens brancos, ricos e supostamente heterossexuais, as pessoas dessa comunidade têm que servi-los em situações de humilhação e prostituição para não criarem problemas para eles dentro de seus lares.

Enfim, para o deputado e sua corja, é preciso acabar com os professores doutrinadores, para que essas opressões continuem acontecendo sem que ninguém as critique ou se oponha a elas. Para isso, também foi feita a Reforma do Ensino Médio, cortando ou reduzindo drasticamente disciplinas que nos trazem os conhecimentos científicos sobre a sociedade e seus processos de opressão. O professor doutrinador, então, seria aquele que traz a ciência para seus estudantes? Porque negando a ciência, negando a história, a sociologia, a filosofia, pessoas mal intencionadas, como o deputado e sua corja, podem manter escravizadas, humilhadas e subservientes as pessoas que eles consideram diferentes e inferiores. 

Diante do exposto, gostaríamos de saber se é essa a definição de professores doutrinadores porque, independente de uma nomenclatura, queremos afirmar e  reafirmar em alto e bom som que não nos compete ser domesticadores. Não nos calaremos diante dos processos de opressão. Nossa profissão exige de nós compromisso social, sobretudo com os oprimidos da nossa sociedade, mulheres, trabalhadores, negros, comunidade LGBTQIA+, incluindo também crianças, idosos e pessoas com deficiência.

 

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