ADUFSJ DISPONIBILIZA PARA CONSULTA LIVRO QUE ENCARA A POLÊMICA SOBRE A LINGUAGEM NEUTRA DA PERSPECTIVA CIENTÍFICA

A ADUFSJ - Seção Sindical acaba de adquirir a obra Linguagem “neutra” - Língua e gênero em debate, organizada pelos pesquisadores Fábio Ramos Barbosa Filho e Gabriel de Àvila Othero e lançada este ano pela Editora Parábola. A obra será disponibilizada  para consulta dos sindicalizados  da Seção Sindical, fomentando o sonho de criação da biblioteca própria da ADUFSJ. 

O livro encara o polêmico debate por um viés pouco adotado até o momento: o científico. “Em tempos de pseudociência, nada substitui discutir os fenômenos linguísticos e sociais com base numa investigação científica séria e comprometida”, afirmam os autores. E, nesta perspectiva, suscita novas polêmicas, como questionar a própria pertinência daquilo a que se referem como a suposta “linguagem neutra”. 

Desde que Bakhtin ensinou que toda língua é formada por signos e todos signos são ideológicos, os autores questionam que, sendo a linguagem a ferramenta que utilizamos para simbolizar nossa existência, pode ela de alguma forma ser neutra? 

O livro apresenta posições divergentes sobre a pertinência ou não da adoção da neutralidade da linguagem, mas de forma coerente e unida por um mesmo fio condutor: o embasamento científico. Contra o uso de marcadores como queridxs, querid@as ou querides, nada dos preconceitos que abastecem os argumentos rasos dos conservadores, que vociferam nos espaços políticos contra o que classificam como um ataque à família cristã. 

A contrapartida da defesa da utilização dos marcadores “neutros” da linguagem fica a cargo, por exemplo, do aclamado professor titular do Departamento de Linguística da Unicamp, Sírio Possenti, que reconhece a violência de gênero contida no léxico gramatical, sustenta que está em curso “um trabalho de incorporação à linguística ‘oficial’ de um linguística popular”, mas ao mesmo tempo não concorda que a letra “O” seja o marcador do masculino oficial da língua portuguesa. 

Possenti defende que, independente de se chegar ou não a uma solução de consenso entre as alternativas propostas, a questão está posta: “Seria indecente não reconhecer sua relevância”. E citando Charaudeau, acrescenta que “a conotação de um morfema não é uma questão de língua, mas de discurso, que implica postular que ela está ligada a seu uso, que é sempre contextual e historicamente situado”. 

A pluralidade do livro se traduz em posicionamentos, mas também em objetos de pesquisa. Para muito além da questão lexical, gramatical e de discurso, o livro enfrenta questões jurídicas e pedagógicas, dentre outras. Em artigo, o professor Fábio Ramos Barbosa Filho discute argumentos e sustentações de alguns projetos de lei contrários à linguagem neutra. Pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas da Argentina. Mara Glozman discute o projeto de lei apresentado à Câmara de Deputados da vizinha Argentina. Já o doutorando em Letras pela UFRJ, Samuel Gomes de Oliveira, aborda a linguagem neutra no ensino da língua portuguesa na escola. 

A importância da obra é inquestionável. “(...) É na linguagem que significamos nossa existência. É através dela que fazemos política, que organizamos a dinâmica das relações sociais, de modo que as relações de força quase sempre desembocam em relações de sentido. é através dela que dizemos *eu*, mas também *tu* e *Nós*, nas diversas línguas que subjetivamos como falantes. Nesse sentido, ela é uma condição da nossa relação com o que nos rodeia”, afirmam os organizadores na revista digital da Parábola, em abril deste ano.

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