EM ASSEMBLEIA, DOCENTES DA UFSJ RECHAÇAM PRONTA ADESÃO DA REITORIA ÀS POLÍTICAS DO GOVERNO BOLSONARO

Os docentes da UFSJ, reunidos em assembleia virtual, na tarde desta quinta (30), rechaçaram a forma subserviente com a qual a reitoria da instituição vem acatando as determinações do governo Bolsonaro. Os professores se manifestaram contrários à adesão açodada da gestão da universidade às Instruções Normativas 125 e 54 e, ainda, à forma desrespeitosa com que a administração superior vem expondo servidores públicos em situações diversas.

 

A categoria se posicionou solidária aos servidores técnicos-administrativos, que se encontram em estado de greve por conta da adesão da universidade às duas instruções normativas, e se comprometeu a levar ao Andes-Sindicato Nacional a sugestão de que toda a categoria docente do país deflagre estado de greve em apoio à causa. Por unanimidade, os professores decidiram lançar uma Nota de Repúdio à Reitoria, abordando todas as insatisfações discutidas na assembleia. 

 

A Instrução Normativa 125/2020, do Ministério da Economia, prevê que o do sistema de ponto das universidades seja integrado ao do governo federal, que fará seu controle. Isso afeta, principalmente, os servidores técnico-administrativos que, por isso, decretaram estado de greve. 

 

Já a Instrução Normativa nº 54, do mesmo ministério, tem como objetivo inibir o direito de greve de todos os servidores públicos. Prevê que o governo seja informado a respeito de toda e qualquer paralisação, total ou parcial, e institui a forma de desconto do pagamento dos dias de greve, além da compensação das horas não trabalhadas. 

 

Convidado a participar da assembleia docente, o coordenador do Sindicato dos Servidores da UFSJ (Sinds-UFSJ), Denilson Carvalho, afirmou que a maioria das gestões das universidades públicas está resistindo às determinações do governo que prejudicam os servidores, enquanto a da UFSJ adere imediatamente. “Falta leitura política. A gestão da UFSJ acata as normas pacificamente e nos expõe”, afirmou. 

 

O sindicalista deu como exemplo do mau posicionamento político da gestão ter aderido à instrução normativa que modifica o controle de ponto mesmo sem entender todas as implicações do processo. “a gestão não sabe responder muitas das dúvidas que nós temos, mas mesmo assim acata isso pacificamente?”, questionou. 

 

Pronto atendimento ao bolsonarismo

 

Vice-presidenta da ADUFSJ,  a professora Carolina Ribeiro Xavier explicou que a gestão da UFSJ comprou da UFRN o sistema para implementação do ponto eletrônico mesmo antes de saber como ele funciona. “O fato da gente ter uma universidade que não é nossa fazendo esta integração é bastante preocupante, inclusive do ponto de vista computacional mesmo.”, afirmou. 

 

Carolina defendeu que é muito importante que os docentes demonstrem sua insatisfação com o que chamou de “pronto-atendimento” da gestão às normativas do governo Bolsonaro. “Nossa posição não é contra a gestão, mas em apoio à gestão para não aceitar isso. Nós temos que estar junto com as universidades que estão resistindo. Nós temos que mostrar à gestão da UFSJ que ela tem que parar de ter medo deste governo”, ressaltou. 

 

Ao criticar a reforma administrativa e a PEC 32, a presidenta da ADUFSJ, Maria Jaqueline de Grammont também defendeu que a gestão da UFSJ mude de posicionamento. “Nos esperamos que esta gestão da reitoria resista ao desmonte dos serviços públicos. E o que temos visto é que ela lida com as ofensivas do bolsonarismo como se fossem questões técnicas, como se não entendesse as questões simbólicas que perpassam as iniciativas do governo”, destacou. 

 

Não à exposição de docentes

 

A exposição inadequada de docentes do Departamento de Ciências da Educação (Deced), durante uma reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conep), foi outro tema que mereceu a atenção da categoria e suscitou mais críticas à gestão da UFSJ.  

 

A professora Socorro Nunes explicou que, em agosto passado, o governo Bolsonaro decidiu enrijecer a flexibilidade com que vinha lidando com a carga horária docente desde o início da pandemia, no que a administração superior da UFSJ aderiu imediatamente, sem ouvir os argumentos dos departamentos que não estavam cumprindo as 8 horas-aulas previstas para o segundo semestre deste ano. 

 

“Esta situação chegou ao Conep de forma surpreendente. Nós fomos surpreendidos naquela reunião fatídica, com um processo contra o Deced e o Demat. Contra o Deced, especialmente, foi de muita violência simbólica”, destacou ela. A professora relatou que os professores foram acusados de não cumprirem a carga horária prevista na Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB), de dividirem disciplinas, de serem liberados para pós-doutorado em tempos atípicos.

 

Para agravar ainda mais, a Pró-reitoria de Ensino (Proen) exibiu os dados destes professores em uma planilha de Excel aberta publicamente na reunião.  “Os dados foram divulgados de forma inadequada. Eles tentaram mostrar um Deced desorganizado, descompromissado e que não cumpria suas obrigações. Há 17 anos que estou aqui na UFSJ e nunca havia me sentido tão agredida”, relatou a professora, que deixou a representação do Coned após o ocorrido.  

 

Diretor da ADUFSJ e subchefe do Departamento de Matemática e Estatística (Demat), Davi Butturi-Gomes, complementou que, mesmo sem haver o debate necessário, o reitor decidiu, unilateralmente, que o tema deveria ser levado ao Conep, após as justificativas que o Deced e o Demat prestaram. “O Demat só não foi mais exposto porque não fornecemos a planilha de distribuição”, esclareceu. Segundo ele, foram muitas as falhas na condução do processo. “Houve uma estratégia terrível de separar para conquistar. De isolar um departamento, de isolar o outro. A luta, na verdade, é coletiva”, ressaltou. 


 

Autonomia de cátedra e linguagem neutra

 

Outro assunto tratado na assembleia foi o caso da professora que foi acionada pela ouvidoria da UFSJ por ter usado linguagem de gênero em um email encaminhado aos alunos. A forma como ela se dirigiu a eles - “querides alunes” – motivou uma denúncia à ouvidoria do Ministério da Educação (MEC) por “pregação”. 

 

O caso chegou à universidade que, ao invés de refutar a acusação de forma institucional, repassou o problema para a professora resolvê-lo de forma individual. 

 

Segundo o secretário da ADUFSJ, Alberto Ferreira da Rocha, a assessoria Jurídica da ADUFSJ orientou o departamento desta professora para que encaminhe um pedido ao Conselho Universitário (Consu) para que se posicione, o mais rápido possível, quanto ao uso da linguagem neutra. “O objetivo é que a resposta à ouvidoria do MEC seja institucional”, explicou. 

 

Representação no CONAD e Fora Bolsonaro

 

A presidenta da ADUFSJ, Maria Jaqueline de Grammont, foi eleita como delegada da ADUFSJ  para o 13º Conad Extraordinário do ANDES- Sindicato Nacional, que será realizado nos dias 15 e 16 de outubro, de forma virtual. Os professores Alberto Ferreira da Rocha e Alfredo Nava Sanchez foram eleitos observadores. 

 

Segundo a presidenta da ADUFSJ, a participação da Seção Sindical nos eventos do Sindicato Nacional é de extrema importância, principalmente neste momento delicado em que a luta contra a reforma administrativa do governo Bolsonaro precisa se intensificar. 

 

“A PEC 32 foi aprovada na comissão especial, em uma manobra deste governo. E só não foi  colocada em votação esta semana porque houve uma movimentação em Brasília, há uma pressão das centrais e dos movimentos. Por isso, neste dia 2, precisamos dar uma resposta nas ruas: nós temos que mostrar nossa força”, afirmou Jaqueline.


 

Compartilhar